Uma formação ampliada que uniu toda a rede de enfrentamento à violência contra as mulheres de Corumbá, Ladário e Puerto Quijarro, cidade do país vizinho, Bolívia. Em dois dias, a fronteira discutiu conceitos, legislações e equipamentos criados a partir da Lei Maria da Penha, além de se debruçar sobre dados de ocorrências e perfis das vítimas de feminicídio.
Conduzida pela subsecretária de Políticas Públicas para Mulheres - pasta ligada à SEC (Secretaria de Estado da Cidadania), Manuela Nicodemos Bailosa, a formação iniciou traçando um panorama geral da violência contra as mulheres, frisando o quanto não se pode compreender o fenômeno da violência como algo que acontece fora de uma relação de poder.
“Atividades como essa de formação e ampliação da rede é uma convocação para que se faça uma grande mobilização popular pelo feminicídio zero, em defesa da vida de todas as mulheres”, ressalta Manuela.
A subsecretária ainda destacou os marcadores sociais que mostram que a maioria das vítimas, inclusive de violência sexual, sofrem dentro de casa. “Quem violenta, estupra e mata são homens e na maioria das vezes são parceiros, são os pais, são quem deveria protegê-las”.
Manuela chamou a atenção para a participação masculina nas discussões, enfatizando que os homens precisam estar preocupados com a causa, além da necessidade de realizar formações permanentes com a rede, não apenas em datas comemorativas como no mês de março.
“Temos que estudar o ano todo, sempre estar recalculando rotas para conseguir proteger as nossas mulheres de toda e qualquer forma de violência. Espero que vocês saiam daqui mais instigados a se envolver nessa luta que é diária, pelo direito de viver sem violência e em defesa da Lei Maria da Penha”, completou a subsecretária.
Presente na abertura da formação, o prefeito de Corumbá, Gabriel Alves de Oliveira, o Dr. Gabriel, reforçou que o enfrentamento da violência doméstica contra mulheres se faz através de um conjunto articulado de ações.
“A rede de proteção às mulheres vítimas desempenha um papel primordial no enfrentamento e combate à violação dos direitos, garantindo a assistência e o acolhimento da vítima. Hoje é um momento ímpar no fortalecimento da rede, e esperamos que da capacitação nasçam bons frutos e progresso para as mulheres que precisam de proteção e cuidado de políticas públicas”, disse o prefeito.
Formação
Nos dois dias de curso, foram abordados o papel da rede de enfrentamento à violência contra a mulher e da rede de atendimento às mulheres em situação de violência, bem como a metodologia das políticas públicas, os objetivos e os principais desafios. Ainda foram debatidos estudos de caso e a importância do fluxo de atendimento.
Para a gerente de Políticas Públicas para Mulheres de Corumbá, Wania Alecrim, ressalta que o município passa por reconstrução da rede, e que nesta fase é essencial agregar conhecimento.
“É uma temática complexa, e nós estamos também em uma região de particularidades, não só a distância em quilômetros da Capital, mas aqui temos a fronteira com a Bolívia, e uma extensa área rural com povo ribeirinho que às vezes pode levar 7h para chegar até Corumbá. Então, a gente precisa se munir de conhecimento e embasamento. Aprender com os exemplos que os estudos de casos trazem, porque a violência não é fácil, ela evolui, ela retrai, é sistêmica” relata.
Wania ainda lembra que chamar toda a rede para a discussão é reforçar, mais uma vez, que a política pública precisa dar acesso a todas as mulheres. “Não é uma questão que deve ficar só a cargo da gestora da política pública, é saúde, habitação, educação, são questões de todos, e isso precisa ser falado”, completa.
Coordenadora de Políticas Públicas para Mulheres de Ladário, Andréia Cristina Barbosa de Oliveira, descreve como uma oportunidade toda a formação recebida e as experiências trocadas.
“Para nós, que estamos começando, é muito importante obtermos conhecimento e dados. Precisamos ter uma capacitação para poder enfrentar tudo isso que está acontecendo em nosso meio. Fico impressionada de ver todos e todas reunidas um só propósito: defender e lutar para que o feminicídio acabe”, comentou.
Para a guarda civil municipal, Andreia Castilho, lotada na Patrulha Maria da Penha de Corumbá há cinco anos, é fundamental que a rede se una para que todos os serviços evoluam. “A gente não consegue fazer nada sozinho, principalmente trabalhando com mulher vítima de violência. Então, é necessária essa integração com a rede, capacitações contínuas para que o serviço possa funcionar de fato como é para ser feito”, resume.
Do lado de lá, no país vizinho, a sargento Jenny Coronado Choque traz a experiência de vivenciar a realidade da fronteira e como trabalham tanto a polícia boliviana quanto a brasileira.
“Notamos que não estamos longe de vocês. O procedimento é similar entre a Bolívia e o Brasil, e sofremos das mesmas carências que vocês. Se há a mulher da Bolívia, se há a mulher do Brasil, devemos estar atentos para cuidar delas e atendê-las da melhor maneira para que ela não volte para casa e se torne novamente vítima de violência”, finaliza.
Paula Maciulevicius, Comunicação da Cidadania
Fotos: Matheus Carvalho/SEC
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