Eis que, no decorrer da última semana, a TV Globo anunciou o último suspiro de sua programação infantil.
Em comunicado enviado à imprensa, a emissora carioca revelou que, a partir de abril do próximo ano, "Bem Estar" e "Encontro" passam a ocupar o espaço que era destinado à "TV Globinho" aos sábados, até então único programa infantil que resiste na grade.
Com o fim da "TV Globinho", a rede reforça sua posição de total descaso com o público infantil, desvirtuando-se de uma das principais funções da televisão no Brasil, que seria, por lei, promover a cultura e entretenimento da população como um todo.
Ao deixar de lado as crianças, a Globo passa a ignorar boa parte da população, carente demais para ter acesso à TV paga.
Quando tirou o programa de sua grade semanal, a emissora já dava indícios de que o fim da televisão para crianças estava próximo. Embora pouco valiosa em termos educativos e de conteúdo questionável, a "TV Globinho" era um resquício de um nicho cada vez mais ignorado pela mídia brasileira.
Com colaboração fundamental do Ibope, que deixou de contar o público infantil em suas medições, e do governo, que restringiu ao extremo as ações de propaganda e merchandising nesses programas, a TV aberta abriu mão de bons e maus projetos voltados ao público.
Do consagrado "Sítio do Pica-Pau Amarelo" ao frustrante game-show em que se tornou o "Bom Dia & Cia", os programas infantis foram perdendo espaço pouco a pouco, como se o público infantil não existisse ou estivesse todo ele na TV paga. Uma realidade que, como bem sabemos, está longe de ser observada nesse país.
A falta de criatividade e de vontade fez com que atrações de qualidade definhassem até seu fim: dos áureos tempos de "Bom Dia & Cia" com Eliana e "Caça Talentos", de Angélica, aos tempos de agora, com desenhos e games.
Falta na TV aberta brasileira produtos de qualidade para o público infantil. Também falta ao nosso governo boa vontade para incentivar a produção desses programas.
Politicamente, o Brasil passa por uma crise sem precedentes, crise moral, ética e de princípios, o que se reflete diretamente nas políticas redes de televisão.
Os próprios canais da TV paga voltados ao público sofrem com a pobre programação infantil e, embora contando com todo o suporte do Grupo Globo, o canal Gloob, único que tem programação verdadeiramente nacional, opta por programas pouco instrutivos.
São raros os casos de produtos de qualidade, como o caso da nova série da TV Cultura, “Que Monstro te Mordeu?”, do excelente diretor Cao Hamburger (de "Castelo Rá-Tim-Bum").
O descaso com que as crianças são tratadas nesse país explica um pouco das mazelas que temos enfrentado no país como um todo. Nas crises social, moral e ética que enfrentamos não apenas na classe política, mas na sociedade como um todo.
Muitos podem falar “TV não tem obrigação de educar”, mas isso não é o que diz o texto da a lei de concessão de serviços de radiodifusão, quando trata dos requisitos para se obter uma concessão (parágrafo 38), especificamente no item D, que reproduzo abaixo: “Os serviços de informação, divertimento, propaganda e publicidade das empresas de radiodifusão estão subordinadas às finalidades educativas e culturais inerentes à radiodifusão, visando aos superiores interesses do País”. Texto que data de 1962 e pode ser conferido na íntegra através do link http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4117.htm.
Portanto, a lei é clara quanto ao papel social dos veículos de comunicação (Rádio e TV), que têm por obrigação primar pela educação e cultura da população.
Há muito essa obrigação está em segundo plano para as emissoras brasileiras, sendo raro o caso de programas que atendam a esse termo, mesmo assim, os órgãos
reguladores preferem silenciar.
O Brasil precisa de programas melhores, pois profissionais competentes para isso, tenho certeza, nós temos de sobra.
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