Há quem alcance a fama através de grandes recordes, esforços ou bizarrices. Há ainda os que precisam se desdobrar para desenvolver um estilo que cative o telespectador. A Cid Moreira, porém, bastou abrir a boca.
Dono da voz mais emblemática da história da TV brasileira, Cid foi durante muitos anos o responsável pelo “Boa Noite” do telejornal mais assistido do país e conquistou um lugar na sala de estar de milhares de brasileiros.
A voz grave, no entanto, é apenas um dos inúmeros talentos do ícone, que, aos 87 anos de idade, se dedica à narração de textos bíblicos e à realização de palestras. Com a experiência de um veterano e a jovialidade de um iniciante, Moreira faz questão de se manter na ativa e diz que procura “não enferrujar”.
Num bate-papo exclusivo, Cid contou como sua carreira teve início, forneceu dicas para os que sonham em seguir seus passos e revelou os cuidados especiais com a saúde.
Confira:
RD1 – Você ainda mantém contrato com a Globo, mas pouco tem sido visto (ou ouvido) na emissora. Este “afastamento” foi opcional?
Cid Moreira - Para mim a vida é feita de fases. Cada período tem suas belezas e dificuldades. Eu comecei no rádio, na Difusora de Taubaté. Depois, Bandeirantes de São Paulo, e, no Rio, Mayrink Veiga. Passei pelo teatro e apresentações de shows. Narrei notícias e programas humorísticos. Fui para a televisão, onde já comecei em telejornais na TV Excelsior, TV Tupi, TV Globo – na época recém-lançada. Depois, TV Excelsior novamente), TV Continental, TV Rio. Mudei. Voltei pra Globo. Apresentei o “Jornal da Globo”. Poucos meses depois foi lançado o “Jornal Nacional”. Nesse meio tempo eu gravava o “Canal 100″, um jornal de cinema. Apresentei o “Fantástico” por muitas décadas. Fiz 45 anos de Casa. Você não acha que fiquei o suficiente na televisão? Completei 70 anos de carreira. Comecei aos 17 e mês passado fiz 87 e continuo contratado. O afastamento é natural! Faz parte da vida e com ele vêm novos talentos.
RD1 – Então você não pensa em voltar à TV em um ritmo mais intenso?
Cid Moreira – Imagina! Estou em outra fase. Atualmente faço palestras para estudantes pelo Brasil e eventos para empresários. Ou melhor, estou me dedicando a uma outra nova fase da minha vida: leituras e interpretações de textos bíblicos. Também é possível encontrar tudo isso na internet. Tá bom de atividade, não é mesmo? As redes sociais e os sites são ótimas formas de manter contato com o público, de trabalhar…
RD1 – Impossível falar com você sem se referir a sua voz. Desde cedo, ela sempre se destacou? Quando ela passou a ser um de seus principais ‘cartões de visita’? E, aproveitando o gancho, quais são os seus segredos para manter a voz em forma?
Cid Moreira – Tudo começou quando eu fui tentar um estágio como contador. Eu estava no final do curso e precisava praticar um determinado número de horas para me qualificar e pegar o diploma. Eu era muito amigo do filho de um diretor da Radio Difusora Taubaté, nós morávamos na mesma rua. Por meio dele consegui um estágio na administração da emissora. Quando cheguei lá com esse objetivo, fui surpreendido ao ser encaminhado a outro diretor que me aguardava para fazer um teste de locução. Mesmo gaguejando e tremendo de timidez, fui aprovado. Mais tarde soube que meu timbre grave havia chamado a atenção dele numa festa de aniversário! Quanto ao preparo da voz, não faço nada muito especial. Bebo muita água. Mastigo gengibre em pedacinhos o dia todo. Além de manter o hálito muito bom, é adstringente e antibacteriano.
RD1 - Você já está com 87 anos e segue na ativa e em excelente forma. Existe alguma “fórmula” para a longevidade? Você mantém hábitos saudáveis?
Cid Moreira – Estou com 87 anos e, se Deus quiser, espero ultrapassar essa marca. Tenho uma rotina de boa alimentação. Só como frutas pela manhã. Gosto de alimentos integrais e muitas folhas. Sou meio vegetariano, só como frutos do mar às vezes. Faço pilates, ando na esteira por uma hora. Faço alongamentos e exercícios. Brinco algumas vezes por semana na quadra de tênis, arrisco uns saques. Faço exercício com bolas com regularidade… Enfim (risos), luto contra a velhice e procuro não enferrujar.
RD1 – Seus anos à frente do “Jornal Nacional” também marcaram o público. Quais são as principais lembranças deste período? Existe alguma “edição inesquecível” que tenha marcado sua trajetória no “JN”?
Cid Moreira - Foram muitas emoções. Muitas notícias e imagens marcantes, tanto para a alegria quanto para as coisas terríveis. A chegada da TV a cores foi uma festa maravilhosa. As primeiras imagens foram da Festa da Uva no Rio Grande Sul. Vi muitas mortes, muitas tristezas também! Vivi o tempo infeliz da ditadura, quando éramos constantemente vigiados. Alegria quando anunciamos a festa, o movimento das “Diretas Já”. Emoção e tristeza na morte do poeta Carlos Drummond de Andrade.
RD1 – O telejornalismo passa por uma contínua ‘mutação’. Quais são as principais diferenças entre os telejornais atuais e os de sua época?
Cid Moreira – Agora os apresentadores estão mais soltos na bancada, gesticulando mais. emitindo opinião, mostrando mais emoção. Até a postura mudou (risos). Agora andam, ficam em pé, e as notícias chegam cada vez mais velozes, instantâneas.
RD1 – Muitos dos leitores do RD1 são jovens que pensam em ingressar no jornalismo. A estes, qual é o seu principal conselho?
Cid Moreira – É uma profissão não muito convencional. Sem horários certos! Muitos plantões. Então precisa muita paixão. É necessário estar entregue. Um bom português é a base para todos as áreas que envolvem o jornalismo. É preciso ler muito e estar antenado a todos os veículos de mídia existentes. Sair na frente e dar uma notícia em primeira mão exige bastante atenção e sensibilidade para perceber que o assunto merece destaque e vai virar tema importante.
RD1 – Outra coisa que mudou bastante são os índices de audiência da TV, que vem perdendo público. Na sua opinião, quais são os principais fatores causadores desta “fuga do público”?
Cid Moreira – A diversificação cada vez maior dos meios de comunicação é uma das principais causas ao meu ver. A multiplicação de mídias oferece um leque gigante de opções para os leitores, telespectadores, usuários de redes sociais. Os canais especializados de notícias, esportes, novelas, crianças… Enfim, hoje o público final tem um menu enorme de opções e acaba filtrando mais de acordo com seus interesses.
RD1 - O que você ama assistir na TV e o que não vê de jeito nenhum?
Cid Moreira - Amo grandes filmes e documentários inteligentes. Não vejo de jeito nenhum programa apelativo, que usa os dramas pessoais que expõem as pessoas em suas vidas particulares.
RD1 – Muito se fala sobre sua conversão religiosa. Hoje em dia você professa a fé evangélica, Cid? Poderia compartilhar com o público um pouco sobre seu atual relacionamento com Deus?
Cid Moreira – Eu encontrei um sentido maior para minha vida no conteúdo bíblico. Ao narrar as grandes histórias bíblicas percebi a grandeza dos textos. Acredito que a Bíblia seja um manual para se viver aqui no planeta. O Novo Testamento, então, me comove muito. O apóstolo Paulo com a sua batalha íntima, Jesus e seus ensinamento tão profundos. Gosto de Davi e Salomão. Eram homens com muitos erros, mas mesmo assim deixaram grandes ensinamentos. Por exemplo, o Eclesiastes: “É tudo ilusão. É tudo como correr atrás do vento”.
RD1 - Quais são os seus atuais projetos profissionais? Como tem sido o dia a dia de Cid Moreira?
Cid Moreira – Acabei de chegar de Gramado/RS. O Natal Luz da cidade tem uma atração fixa, “O Natalis”, narrada por mim. Outra novidade é uma página que criei na internet [Clique AQUI para visitá-la]. Encontro muita gente que me pede para gravar mensagens para o pai, mãe, namorado, enfim! Daí surgiu a ideia de eu abrir um espaço desse gênero. A pessoa acessa, envia o texto, poesia, mensagem, recado, etc. Não pode ser usado para fins comerciais. Tem um custo de gravação e estúdio e a pessoa recebe via e-mail a mensagem personalizada. Já fiz para casamentos, dia dos pais, carta de namorados. Isso democratizou ainda mais a minha voz.
BATE-BOLA
Uma Qualidade – Sinceridade.
Um Defeito – Mania de Perfeição.
Um Livro – A Bíblia.
Uma Música – “My Way”, de Frank Sinatra.
Uma Boa Lembrança – Tardes frias e sol de inverno em casa, na infância
Um Amigo – Meu irmão, Celio Moreira, o “sombrinha”, apresentador do antigo “Jornal de Verdade”, da Globo.
Um Inimigo – A inveja.
Um Sonho Realizado – Gravação da Bíblia na íntegra para os cegos.
Um Sonho que Ainda Não se Realizou – Ficar totalmente à vontade em meio a muita gente.
Cid Moreira é… – Beleza e contradição.
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